Nunca gostei de ouvir a expressão "três equipas" no contexto de um jogo de futebol.
É verdade que temos três grupos de pessoas, cada um representando uma instituição, em campo e, nesse sentido, temos três equipas.
Mas como se trata de um desporto, a palavra equipa remete-nos para quem vai disputar o jogo. Das três equipas, há uma que decididamente não está ali para tomar essa parte no confronto.
Destas três equipas, enquanto pessoas, todos podem falhar na sua atuação. No entanto, o resultado do jogo deve resultar dos sucessos e insucessos de duas dessas equipas e nunca, absolutamente nunca, da atuação de um membro da terceira equipa.
É porque há erros defensivos que o golo é possível. A terceira equipa não é chamada, nem agora, nem ontem, nem nunca, para essa equação. É chamada a averiguar a legalidade, dentro das regras do jogo, sobre a atuação das outras duas equipas.
De igual modo, não se espera de um juíz que tome parte entre um possível culpado e uma vítima. Espera-se que avalie quem é quem, e se há razão para tal avaliação.
Fora acusações de corrupção, parece-me elementar compreender que é impossível um árbitro de futebol ver e ajuizar, sempre bem, "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" (já agora, aconselho a verem o filme).
Apesar de outros desportos já contarem com o auxílio da tecnologia no seu processo arbitral, o futebol demorou algum tempo a introduzir um seu sistema, a que chamamos VAR.
Tal decisão não escapou a críticas por parte de vários intervenientes do mundo do futebol, e a sua continuidade continua a ser alvo de polémica.
A introdução da utilização deste sistema implica a aceitação de que os árbitros vão sempre em algum momento errar, por limitações humanas.
Tal lógica deve igualmente aplicar-se ao Árbitro Assistente de Vídeo. É isso que é o VAR (Video Assistant Referee, em inglês).
Este sistema, que pretende diminuir o máximo possível o número de falhas arbitrais continua, ainda assim, a apresentar falhas.
No entanto, em sentido contrário dos que dizem que seria melhor acabar com o VAR, há que lembrar que, sem o VAR, as falhas são ainda em maior número.
Por essa ordem de ideias, porque não propor que se acabe com os fiscais de linha, já que provavelmente o árbitro sozinho dará conta de tudo? Escusamos de contar com os eventuais erros dos fiscais de linha.
Aliás, para se acabar com os erros de arbitragem, proponho que se acabe com os árbitros. Adiante..
O sentido em que devemos caminhar deve ser sempre o de tornar mais fácil e verdadeira a decisão e não o contrário.
Ainda hoje li que M. Arteta ironizou, dizendo que ia "ficar careca" quando confrontado com os responsáveis que diziam ser necessários alguns anos para melhorar o VAR.
O futebol data já do séc. XIX (excluindo os seus antecessores), passou e passará por transformações, pelo que esperar alguns anos para que a "verdade desportiva" possa ser ainda mais certeira, parece-me algo a que devemos estar dispostos.
Como o VAR só actua em certas situações, seja na dúvida, ou em caso de erro claro do árbitro de campo, os seus erros provam, ainda assim, que, no mínimo dos mínimos, essas situações iriam terminar, ou com o erro do árbitro, ou com uma boa possibilidade de erro, se o VAR não interviesse.
Qual é a solução? Garantir ainda mais capacidade de sucesso ao VAR.
Há situações, como é o caso das linhas do fora de jogo, em que o erro humano pode ter interferência. A forma de colocação das linhas, o problema dos frames, etc.
Já existe a "tecnologia de fora de jogo semiautomática", que permite excluir esses problemas. Um sensor na bola emite sinais que permitem calcular o momento em que sai do pé do jogador (500 sinais por segundo parecem-me exactidão suficiente) e há várias câmaras instaladas no estádio que observam vários pontos do corpo dos jogadores.
Numa indústria que move milhões, contar com um maior uso da tecnologia e consagrar mais algum dinheiro para câmaras e sensores, não me parece um gasto desnecessário.
Os outros problemas, os de interpretação, não são do foro exclusivo do VAR. Argumenta-se que "ser ou não penalty" depende sempre do árbitro que está no VAR. Não era exactamente igual quando só havia o árbitro de campo?!
São situações em que tanto o VAR como o árbitro de campo se vão confrontar com questões de interpretação, pelo que são as regras que devem ser ajustadas para serem o mais claras possíveis e evitar os famosos casos de "intensidade", "intenção" e "critério".
Infelizmente esses casos, na sua generalidade, tendem a acabar com intensidade, intenção e critério bastante concretos.