Acordaram agora?
Rui Pedro Barreiro, 19.06.23
Os assobios a jogadores da Seleção Nacional geraram um coro de indignação de alguns atores do "edifício do futebol", em Portugal, que parece que estão a gozar connosco. Por onde têm andado até agora? Violência gratuita, insultos e comentários sem qualquer penalização ou com castigos a fazer de conta, de jogadores, treinadores e dirigentes, para além do sempre exacerbar dos duelos inúteis esquecendo que são adversários no jogo e não inimigos e que são o perfeito "caldo de cultura" para estes comportamentos a que assistimos recentemente. Em Portugal somos muito tolerantes com a violência física e verbal fora dos recintos desportivos, dentro dos campos e até entre jogadores e treinadores, veja-se o caso de alguns recordistas em expulsões e a quem quase nada acontece. Estes comportamentos não ajudam nada ao fomento do "fair play" e à tolerancia entre adeptos de diferentes clubes. É preciso assumir que Liga e Federação andam a assobiar para o ar e agora colheram os assobios nos estádios. Parece que estão a gozar connosco! Exige-se mais, muito mais do que simples condenação de quem assobia!
Acrescento aos meus argumentos o facto de a Seleção ser cada vez menos de todos nós e aparentemente só de alguns. O rendimento, as exibições, os golos marcados começam a contar pouco para se ser convocado. O facto do Sporting não ter os convocados que devia deixa os seus adeptos insatisfeitos. A forma como João Mário saiu do Sporting e a sua relação com o Inter para ir para o Benfica também deixa os seus adeptos zangados. O que Otávio fez na comemoração do título e o seu comportamento em muitos jogos também não agrada a muitos, em especial aos benfiquistas. Eu não assobio os jogadores quando vou ao estádio, mas percebo que quem paga o bilhete tem direito a reclamar se os jogadores não estão a desempenhar o seu papel, já não percebo, nem aceito, que jogadores que estão a representar o nosso país sejam assobiados, independentemente dos argumentos que cada um tenha. É verdade que para se ser seleccionado deveria exigir-se um comportamento correto com companheiros e adversários, mas como disse no início quem manda no nosso futebol não me parece que tenha, nos últimos anos, andado muito preocupado com isso. Também parece que representar a Seleção não é um orgulho, como antigamente, aceita-se facilmente que os jogadores digam que já não querem ir representar Portugal, o que me parece um sinal errado para todos.
Lutar pela cultura desportiva, a tolerância, o fair play, a luta contra o racismo não pode ser só conversa. Exige-se que quem manda no futebol atue em conformidade e não se limite a assobiar os assobiadores!